hoje, uma
quarta-feira, tão insignificante quanto o resto,
lendo no
ponto de ônibus o poema “os gêmeos”de bukowski — cujo livro
queimando na
água, afogando-se na chama (inclusive achei o título muito piegas) comprei
num sebo —
estranhamente me lembrei dela.
pois, ali,
naquele mesmo lugar, encontrei-a algumas vezes. cedo ainda.
e no
insignificante egoístico de minha vida cumprimentei-a e só.
não fui
adiante. nunca ia. ela também. tínhamos medo, acho, de nos cobrarmos,
de nos
denunciarmos a nós mesmos. por medo, acho.
dialogávamos
no silêncio. mas não entendo o silêncio. não sei o que ele diz.
ela sorria.
e eu sentia uma tristeza naquele sorriso. preso a mim mesmo, eu sorria
apressado
fugindo da
conversa. tinha medo do que ela poderia dizer. e fingia estar alegre,
reclamando
pela lentidão das horas e demora do ônibus para me levar prá longe dali.
por vezes
encontro-me assim, culpando-me. é foda isso.
ela achava
melhor assim, distante, sozinha, fugindo. eu, no meu egoístico silêncio, achava
melhor assim, distante, fugindo, sozinho.
procurava,
ela, por algo que não podia ter, porque procurava longe, em outros lugares, em
outras pessoas. o ônibus passava e eu seguia burocrático. queria perguntar o
que sentia, mas não tinha coragem, porque talvez eu não pudesse dar, talvez não
soubesse dar o que ela precisava. disso nunca saberei.
deixei
escapar o momento. hoje já não posso.
as coisas
continuam, seguem, passam
os ônibus,
as pessoas, o telejornal, a reforma do apartamento vizinho
que empoeira
a escada continua. tudo continua.
até eu.
é foda isso.