Um matutim lá dos cafundó do Juda gosta muito de filme
americano e para sobreviver vende dvd pirata na cidade. Quando vão comprar o
filme ele conta logo tudo. Como é o filme, quem é o artista e quem é o bandido.
Tem gente que nem compra mais, depois de ouvir toda a estória desde o início
até o, como ele mesmo diz, “dé endi”.
_ O dvd
é o mermo preço ainda?_ Premero, como me ensinaro na iscola, a gente diz gódi monin. Oraitxe?
_ Ó,
seu abestado. Se tu vinhé cum essas fala, essas coisa, esses palavróro
miserento, pode dizê, que’u vô arredá o pé daqui agorinha mermo. Nóis é tudo do
mato, até tu que é fi de Marinita, aquela frebrenta que veve beben’o na minha
budega e nunca me paga.
_
Oraitxe. Mas essa estora de não pagá num é cumigo. Quem bebeu foi ela. Oraitxe?
Pode escolhê o filme que quisé, proque se não tivé eu mando fazê na hora. Oraitxe?
_ Continua
o mermo preço?
_ Trei dvd é faive dolari, meu
patrão.
_Oxi!
Agora danô-se. Num intendi nada.
_É faive
dolari, meu patrão. É cinco real. Ói, tenho dvd brasilêro, francei, italiano,
ingrei e de putaria. E é tudo originá._Vôte! Cum’é que pode sê originá se é pirata?
_Vô te expricá. Num tem muita diferença não. Pirata é quan’o o filme é copiado dos computadô. O caba vai lá nos computadô e grava o filme. Já o originá é diferente. É quan’o o dvd é copiado do originá. Gravado do computado é pirata; gravado do originá é originá. Óraitxe?
_Num sô
crente prá tá oraitxe o tempo todo.
_Eu preguntei
se tu tá intenden’o. Ô matuto burro, num intende nada de ingrei. Ó, me diz uma
coisa: tu gosta de qual filme?
_Eu
gosto muito de faroeste.
_Oxe!
Hoooomi, tu ta muito atrasado. Isso é do tempo do ronca. Num se faiz mais esse
tipo de filme não. O negoço agora é friquição científica. Oraitxe?
_Frequi
o quê?
_
Friquição científica. Aqueles filme que tem nave do espaço, aquelas coisa do
outro mundo, outros praneta. Tem aqueles bicho anssim que não é nem boitatá, nem
fogo corredô. É aqueles bicho arieninja. É coisa muito mais escalafobética. Oraitxe?
_Num
gosto disso não. Tem muita mintira.
_Oxe. É
bom demais, home._Deixa eu te fazê uma pregunta: us piqui ingri?
_O que, homi? Que bobônica é isso? Que palavrão da boba serena é esse?
_Us... piqui... ingri... eu tô preguntan’o se tu intendi ingrei.
_Oxe!
Num sei nem o portuguei, avali o ingrei. Proquê?
_Proque
o bom mermo é assistí em ingrei. Premero que eu num sei lê rápido aquelar
letrinha. Depois a dubrage as veiz num é boa. E quan’o cê tá lendo ar letrinha
num dá tempo de vê as figura e quan’o tá ven’o as figura num dá tempo de lê ar
letrinha. Ainda por cima me dá dô de cabeça e num dá tempo de vê o artista brigan’o
com o bandido. É por isso que eu só assisto o filme em ingrei. Oraitxe?
_Oxe! Ó,
o matuto. E tu intendi?
_As
veiz num intendo argumas palavra, mas aí é só óia a cara do artista e vê as
careta prá intendê.
_E tu intendi tudo que se diz no filme?
_É craro que num intendo tudo.
Mas dá prá fazê uma meia-sola. Por exemplo: num filme de briga quan’o o bandido
leva um coice que tora o pau da venta o qué que ele diz.
_Oxe! E
eu lá sei.
_Ele grita
na hora da raiva: foca íu! Foca íu! Aí eu pregunto: o que qué dizê?
_Como é
que vô sabê.
_Ele
diz: fi de rapariga.
_Vixe!
Num sei se é isso não. Mintira da bixiga, home.
_É
craro que é. Deixa eu te expricá. Quan’o cê tá numa briga e leva um murro na
cara o qué que cê diz.
_Oxe!
Grito logo: fi de rapariga, vô de torá no meio feito palito de foscri, fi da
gota serena.
_Num te
dixe! Num te falei! Fi de rapariga. Tu tem que intendê o seguinte. É que lá na
língua dos ingrei as palavra num é ingual a nossa. As veiz ela diz uma coisa,
mar num é essa coisa é outra coisa que ela qué dizê. Leruaitxe? Intendesse?
_Oxe!
Intendi nada, não. Mar vamu lá, diga outra prá vê se eu acerto.
_Quan’o
o artista pega a artista no braço, enrrola ela ansim feito cobra, óia no zoio
dela, mela os beiço de cuspe e fala “ai lovi”.
_Oxe, facim,
facim. Só pode sê: tô doidxo prá te cumê.
_Ô
peste burro. Isso num é filme de putaria não. Preste atenção a pronunça: ai-ló-vi...
fazendo biquinho anssim... ai-ló-vi... ele tá dizen’o “eu amo-le”.
_Oxe,
home! Isso é muito compricado. Aprefiro o meu portuguei mermo que a gente diz o
que é e acabô-se.
_Ós pequi ingri, leruaitxe.
_ E agora o que foi?
_ Que filme que tu qué?
_ Me dá de putaria mermo. Pelo
meno num tenho que vê ar letrinha e intendo tudo.
_ Homi cum homi, mulé cum mulé ou
mulé cum home?
_ Tem que tê mulé e homi. E bote
num saquim prá minha mulé num vê.
_ É faive dolari.
_ Tome aí teu dolari.
_ Muito tânquiu.
_ Ai dento.