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Este alagoano de São José da Tapera, nascido em 1966, é maravilhado com a escrita e encantado com as letras. Procura traduzir em seu trabalho as inquietações da alma humana em suas relações interpessoais e consigo mesmo. Autor dos livros: O homem que virou calango (contos); Retratos Urbanos; Síndroma de Imunodeficiência Depressiva; Da dor do não, poemas; coautor de Caoticidade Urbanopoética do eu nulo, poesia; participação na 1ª Antologia da Confrafia: Nós, Poetas.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sobre um lugar qualquer


Sobre um lugar qualquer

Enquanto isso, n’algum lugar...

Os tons violáceos da madrugada subjugam-se ante a barbárie pictórica do alvorecer.

Aos poucos o que era informe assoma. O negrume desvanece e podemos ver um alpendre em madeira bruta sem pintura. Uma porta, entreaberta, com venezianas incompletas deixava à mostra um pouco do seu interior. Na janela uma cortina de tecido semelhante a um véu esvoaça ao vento deixando transparecer alguns rasgos e manchas amareladas. Os vidros, alguns quebrados, acumulam poeira. Da pouca mobília, e pobre, apenas pedaços. Pelo chão restos de cadeiras e recostada na parede uma mesa; sobre, um vaso com flores de plástico, uns poucos talheres e alguns pratos em cacos. Um sofá gasto pelo uso e tempo, uma mesinha de centro com algumas incrustações a faca e nas paredes, de um verde nauseabundo, algumas molduras vazias, tentando esconder, talvez, algo o que um dia não foi. Dependurado na parede em frente a porta um quadro retratava a santa ceia.

O chão pobre de pouca vegetação demonstra a acidez do lugar.

Nesse ínterim, n’outro  lugar ...

O sol pardacento derrama indolente sua preguiça sobre o chão pedregoso. Não há pegadas nem vestígios d’alma.

Algumas flores dispostas cuidadosamente no alpendre denotam o desvelo a aquilo o que um dia foi. A porta almofadada de um azul suave, aberta, convidava a observar. Na mesa coberta com uma toalha de renda alguns talheres e pratos zelosamente dispostos, como a esperar alguém. O sofá num canto e uma cadeira de balanço a observar a porta. As flores no jarro, sobre a mesa de canto, embebiam o ar com seu olor. Nas paredes brancas retratos de pessoas que marcaram a vida dali. Na janela envidraçada uma cortina branca confeccionada com um tecido leve, ao sabor da brisa matinal, balouça, de alegria, por certo.

As flores, mesmo sós, permanecem belas como devem ser.