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Este alagoano de São José da Tapera, nascido em 1966, é maravilhado com a escrita e encantado com as letras. Procura traduzir em seu trabalho as inquietações da alma humana em suas relações interpessoais e consigo mesmo. Autor dos livros: O homem que virou calango (contos); Retratos Urbanos; Síndroma de Imunodeficiência Depressiva; Da dor do não, poemas; coautor de Caoticidade Urbanopoética do eu nulo, poesia; participação na 1ª Antologia da Confrafia: Nós, Poetas.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

EST IRATUS HOMO - O HOMEM REVOLTADO

EST IRATUS HOMO (O HOMEM REVOLTADO) 


VOMITAREI CÉFALOS
SOBRE SUA BOCA IMUNDA

DEFECAREI EM SEUS TENTÁCULOS MORIBUNDOS
VILIPENDIAREI TEUS ESPAÇOS CEDIÇOS
ONDE NA PENUMBRA AS PUTAS E OS PUTOS MIJAM E GOZAM

EXTIRPAREI SUAS VÍCERAS FÉTIDAS E PUTREFATAS
E LANÇAREI NOS MONTUROS, LATRINAS
E ESGOTOS ESCUROS

E PARA SACIAR MINHA SEDE
BEBEREI SEU SANGUE RUBRO E VISCOSO
QUE ESCORRERÁ DE MINHA BOCA
IRASCÍVEL E SEDENTA

E APÓS SACIADA MINHA SEDE
CUSPIREI VERMES ASQUEROSOS
SOBRE SUAS PÚSTULAS

ESTUPRAREI SEUS TÍMPANOS
COM ALARIDOS E GEMIDOS
ESTÉRICOS E AGONIANTES
Ó IMUNDA VACA
IMUNDA
Ó URBE
VIL
LASCIVA

E TIRÂNICA

Poeticamente: ME, COMIGO!

Poeticamente: ME, COMIGO!: ME, COMIGO! “A astúcia de Baco me seduz Num frenesi embriagatório E eu me rendo Ao sabor do vinho Implacável é a consciência...

EST IRATUS HOMO - O HOMEM REVOLTADO


ME, COMIGO!


ME, COMIGO!
“A astúcia de Baco me seduz
Num frenesi embriagatório
E eu me rendo
Ao sabor do vinho
Implacável é a consciência
Da noite com o seu silêncio voraz
“Back to black”
A canção angustiada da Amy
Devora a minha solidão
Aos goles e mais goles
O vinho gelado
Desce vertiginosamente
Goela abaixo
Ao som do pen-drive
Vindo da pequena caixa de som”
(Solidão sedada – Geo Santos)

Moro no oitavo andar de um prédio num bairro residencial e às vezes, na varanda, fecho os olhos e me vejo pairando sobre os telhados da cidade. Cidade esta que me enclausura em mim mesmo. E fico assim em minha solidão.
Aos vizinhos há apenas alguns boa noite e boa tarde num simulacro de boa vizinhança e educação. Nada além disso. Não que eu seja o tipo do cara chato, metido ou esnobe, não, apenas tomei para mim uma introspecção e carrego-a comigo. O terapeuta até já tinha me pedido para ser mais expansivo, menos burocrático, mais dado às emoções e ao que os relacionamentos têm de melhor: os abraços e os sorrisos. Estou tentando – é o que tenho a dizer.
Antenas parabólicas e Arranha-céus misturavam-se com o horizonte plúmbeo no início da noite dificultando a definição do começo e fim de cada um.
Voltei-me para dentro e observei a sala em silêncio. Vi as paredes nuas e pensei em comprar um ou dois quadros. Quem sabe a colorida plasticidade de um Romero Britto ou a escuridão poética de um Chen Bo. Não! Realidade. Realidade. Qualquer dia entro em um shopping e compro uma tela daqueles artistas que pintam e parece que os quadros são produzidos em série porque todos tem o mesmo motivo abstrato aprendido em revistas que ensinam a pintar.
Lembrei-me de um vinho que havia comprado dias antes através da indicação de um amigo. Na cozinha, peguei uma taça, coloquei um pouco de vinho, senti o aroma e o sorvi para apreciar o sabor. Voltei à sala e deixei-a a meia luz. Enquanto no pen drive rolava a angústia de Amy, dirigi-me novamente a varanda e fiquei a observar o infinito, saboreando o vinho tinto.
O horizonte, como sempre, mostrava-se taciturno.
Observando os prédios vizinhos com suas janelas abertas ou fechadas, pensei quais vidas se escondiam por trás das cortinas. Era como se estivesse a procurar algo para me distrair. O telefone vibrava insistentemente. Desliguei-o. Queria estar comigo e só.
Meus olhos foram direcionados para uma janela onde um casal, que a princípio parecia estar dançando, desenvolviam movimentos muito particulares e sedutores. Recuei um pouco e me sentei para observar sem ser visto.
O vinho, a música, o casal em movimento, a libido, o jeans sob pressão, as mãos tal veludo, deslizando sobre o peito nu como em um balé; os pelos eriçando-se ao toque da derme; as narinas abrindo-se e fechando-se em sincronia, os lábios úmidos, a boca em sons guturais e o corpo exalando um olor somente perceptível aos adoradores de Vênus. Neste momento as mãos em movimento pulsátil de vai-e-vem; os olhos focando o infinito na tentativa de domar o tempo e perpetuar aquele instante; o torso contorcendo-se em movimentos sinuosos para acomodar-se a velocidade da respiração e mãos - frenéticas, em movimentos rápidos, traçando um diálogo entre os olhos, a boca e o casal, faziam a adrenalina insuflar minhas veias, faziam as pernas contorcerem-se, e o corpo... e o movimento das mãos em sim e em não e ao fim daquele balé solitário, a emoção... em jatos.


Autor: André Maurício Pereira
Ano: 2015

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